sábado, 23 de maio de 2009

O que se faz com a dor?


Faz algum tempo que venho me atrevendo a correr. Faço parte de um saudável grupo de pessoas que participam de corridas de rua.

Tudo começou por brincadeira e eu não levava os treinos muito a sério, até o dia que fui ao cardiologista e ele descobriu que tenho “um tal” de bloqueio cardíaco. Calma, calma.... vaso ruim não costuma quebrar fácil e meu pequeno probleminha serviu exclusivamente para me incentivar a manter uma disciplina com os treinos para corrida, afinal, o cardiologista disse que o único esporte que não posso praticar é mergulho (zen demais para um coração tão agitado). Enfim, desde então, vou correndo (literalmente). Corro na vida pessoal, corro na profissional e corro por esporte.

Já enfrentei vários muros. Cansaço, asma, subidas, calor, mas na última corrida meu principal adversário foi a dor.

Apesar de todo trabalho muscular para fortalecer esta sofrida parte do corpo, que suporta tanto impacto, há uns trinta dias que tenho sofrido dores no joelho. Teimosa como sou, não quis deixar de participar de um Circuito no último domingo.

Lá fui eu... totalmente sem juízo para mais uma deliciosa corrida... A única estratégia que preparei foi: não parar. Sabia que se parasse não agüentaria continuar e, terminar uma prova é algo indiscutível para mim. Se eu começar, vou até o fim, nem que seja pulando como um saci-pererê.

Não tenham dúvidas de que doeu e doeu muito. E esta dor me fez pensar em outras dores e como podemos administrá-las.

São tantas dores que enfrentamos pela vida afora... Dores físicas, espirituais, emocionais. E será que é possível ser racional diante de alguma delas? Talvez seja. E, resistir às dores, não deixa de fazer parte do nosso processo de crescimento.

Normalmente, toda dor é assim, há um momento em que percebemos que ela vem chegando (normalmente surgem sinais) e fazemos questão de não respeitar sua importância. Mas ela está lá. Existe e é real. Podemos derrotá-la no primeiro round, ou, continuamos nosso caminho e a jogamos para debaixo do tapete, na esperança de que em alguma hora ela vá embora sozinha.

Mas ela não vai, e é inevitável que o segundo momento da dor desabroche. Ela aumenta progressivamente e tentamos, como um paliativo, nos concentrar em outras coisas que nos desvie a atenção. Chegamos a pensar que ela se foi, porém mais uma vez nos enganamos, pois ela volta ainda mais forte, porque não foi medicada no tempo certo. E são nessas horas, que dá uma vontade enorme de desistir e se entregar a dor tão intensa.

Só que dor intensa é estranha, quando achamos que já não vamos mais suportar, tudo parece anestesiado e aí nada mais nos detém. Vivemos o perigo de nos acostumar com a dor ou, podemos optar em nos libertar dela. Na mesma proporção em que nos enfraquece, ela nos fortalece para lidar com suas nuances na esperança de cruzarmos a tão esperada “linha de chegada”.

Vencer ou ser derrotado por ela... mais uma vez, é uma questão de escolha!

Quem sou eu para simplificar as dores alheias. Cada um sabe o limiar de sua dor. Apenas transpus uma experiência física para meu mundo de "devaneios"... E por falar nisso, a minha dor física está aqui. Ficou um tempo debaixo do tapete, desviei minha atenção, senti-me anestesiada, usei toda minha força para vencer um desafio. Mas sei que é necessário derrotá-la e para isso preciso deixar a teimosia de lado e encarar que o problema físico existe e já passou da hora de ser resolvido, como muitos outros problemas que adiamos e se transformam em dores em nossas vidas.

sábado, 9 de maio de 2009

Pirlimpimpim!!!

Na minha infância fui presenteada com a primeira versão do Sítio do Pica Pau Amarelo. Não perdia um episódio e tudo me encantava. O “sonho de consumo” não era brincar de Barbie ou Susi, mas era ter a liberdade de Narizinho.

Monteiro Lobato soube, como ninguém, ler a mente das crianças e criar, entre outras fantasias, um pó mágico que poderia transportar seus personagens de um lugar a outro.

Lembro-me das inúmeras vezes que gostaria de ter um saquinho com este fabuloso pó para ir à algum lugar, bem longe, onde não existisse o “Para Casa”. Doce tempo em que, o que me aborrecia, era apenas a quantidade de tarefas que a escola mandava para realizar em casa...

Hoje em dia este pó tornou-se gênero de primeira necessidade e o código de comunicação entre amigas. Pode saber que, se uma telefonar para a outra perguntando onde se consegue comprar o pó do Pirlimpimpim... é sinal de que a coisa está feia...

A ilusão de criança foi transportada para nossa vida adulta, onde pensamos que “sumir” traz soluções para algo que não gostaríamos de enfrentar. Que ter, ou virar um pó, é o mesmo que uma bóia salva-vidas em um naufrágio. Precisamos nos agarrar a alguma coisa que nos tire de onde não queremos mais estar. Precisamos, muitas vezes, nos salvar de nós mesmos e aquele pó representa a saída de emergência, nossa última esperança para recomeçar de forma diferente. Atribuímos ao coitadinho do pó do Pirlimpimpim a responsabilidade de solucionar nossas inquietudes.


Não posso negar que faço (e continuarei fazendo) uso do almejado pó, porém um pouco mais materializado em uma cia aérea onde me transporto para alguns dias de descanso. Quando volto, os problemas já não são tão “problemáticos”, mas é o “olhar” que volta diferente. Volta mais aliviado para enxergar as inúmeras coisas que não via quando saí daqui. As alegrias passam a ser maiores e o peso ficou para trás, no fundo da caixinha e talvez lá seja transformado em mais pó para os próximos dias de exaustão.

Como diz um amigo querido: “espero que quando eu estiver velho, os outros não pensem que eu esteja louco, mais uma coisa é ficar louco depois de velho e outra é nunca ter tido juízo”. Talvez ser adulto demais é que esteja nos fazendo perder o juízo e querer “sumir”.

Olhares...


Partindo da teoria de que Deus nos deu uma boca e dois ouvidos para que possamos escutar mais e falar menos, vou compactuar com ela no que diz respeito aos olhos. Se nos foram concedidos dois, é para que possamos observar mais as coisas e as pessoas que nos rodeiam.

Quantos olhares cruzam com os nossos diariamente? Muitas vezes, são olhares que não dizem nada, outras vezes, são aqueles que nos têm muito a dizer. Será que estamos preparados para “ouvi-los”?

Participava de um recrutamento com o objetivo de ser observadora no processo. Quando me dei conta, eu era o alvo de vários olhares. E cada olhar ali tinha uma história, tinha algo a dizer.

No decorrer da seleção, características de personalidades, objetivos, exposição de necessidades, vidas bem diferentes da minha e aqueles olhares dizendo muito mais do que saía de cada boca.

E meu olhar de observadora, com a dura missão de participar da escolha de quem continuaria e quem estaria fora do processo. Senti a responsabilidade de me concentrar em cada olhar.

Tinha olhares de dezoito anos, aqueles que enxergam uma vida pela frente. Olhares de vinte e cinco, que já pensam na seriedade que o futuro impõe. Olhares de cinqüenta, que buscam um recomeço.

O maior desafio era contribuir com os “excluídos” para saírem dali olhando para frente, sem perder a esperança.

O “corpo fala”, e é indiscutível não perceber esta verdade, mas é o rosto que “entrega o jogo”. Os olhos desmascaram qualquer intenção oculta.

Eu vi olhares atentos, sofridos, esperançosos, confiantes, curiosos e aflitos. Olhares coloridos, mas vi olhares cinzas também. E o mais bonito é quando esses olhares começam a perceber que as cores existem e merecem ser admiradas.

Através do nosso olhar, nossa relação com o mundo adquire uma tonalidade especial, que também está intimamente ligada às nossas escolhas (coloridas ou monocromáticas). E como toda boa escolha, pode transformar nossos dias.

Aquela turma passou por mim, mas não em “brancas nuvens” e meu maior e romântico desejo é que tenhamos verdadeiros “pantones” a enxergar para não desperdiçarmos nenhum precioso olhar que cruzar o nosso caminho.