segunda-feira, 28 de setembro de 2009

De dentro de uma bolha de sabão...


Em plena quarta-feira pela manhã, brincava com as crianças de bolha de sabão e me diverti ao vê-las tão encantadas, descobrindo formas malucas, descobrindo o arco-íris, gritando de alegria quando surgia uma bem grandona que estourava ao tocar o chão.

Sugeri que cada um imaginasse que estava dentro da bolha e viajasse para algum lugar. Depois me contassem como achavam que seria esta viagem. Enquanto um chegou a lua a outra queria se aventurar na Disney, cada um com seus sonhos, suas viagens imaginárias de aventuras. Verdadeiros super-heróis.

Quando fui me deitar, fiz a brincadeira comigo mesma. Onde gostaria de chegar? O que gostaria de ver? O que sentiria dentro da bolha de sabão, a minha bolha de sabão...

E ela voou para um tempo tão gostoso! Tempo em que eu acordava às cinco da madrugada e ía para a praia de Copacabana com meu pai, lá no finalzinho do Posto 6, acompanhar o arrastão... sempre ganhava minúsculos peixinhos que ficavam comigo no baldinho que eu havia levado para brincar nas areias do Posto 4. Não entendia porque nunca conseguia voltar para casa da minha tia com os peixinhos...

O Rio de Janeiro “sempre foi lindo” para mim. Na infância, na juventude, na vida adulta e penso que na maturidade ainda o será. E o encanto que sentia ao ver redes tão fartas, causava também compaixão para com aqueles pobres peixes que o arrastão tirava do mar. Eu não compreendia que era aquilo que trazia sustento aos pescadores.

Vejo que o arrastão da vida nos tira o tempo para que possamos trazer sustento às nossas famílias também.

Ahh o tempo... olha ele aí outra vez!

Não consigo imaginar uma vida diferente da que tenho. Para muita gente foi uma verdadeira loucura abrir mão do meu trabalho, da minha carreira para dedicar-me à minha família. Por momentos, senti-me incompetente, pois a maioria das mulheres continuava suas vidas profissionais e eram mães, esposas, enfim, fazendo mil e uma coisas de uma só vez. Eu não poderia ser assim. Eu não daria conta de ser assim, tão multi, ultra, completa. Lidei com minha incompetência de forma prazerosa. Tem dias que um "pó do pirlimpimpim" cai bem, afinal não sou de ferro. Mas, são nos dias em que entro na minha bolha de sabão e viajo para minha infância, é que me lembro que tive pais levados pelo arrastão de compromissos. Eles sempre se esforçaram em promover momentos felizes, como os vividos nas areias de Copacabana, mas eram raros... mas nos fizeram "virar gente".

Dou meus pulos profissionais aqui e ali, para tentar ajudar nas finanças, pois o nosso desejo em “ter” tenta muitas vezes sufocar as maravilhas do “ser”. Mas “ter” faz parte da vida e desde que não prejudique ou desvirtue meu foco, ele é saudável e tangível. E sei que, em breve, poderei retornar para uma vida agitada. Mas não agora, não amanhã. Vai chegar o dia.

E, lá minha bolha, que passava pela minha infância, eu vi o quanto sou feliz. Sou uma privilegiada. Não são todas as pessoas que podem (outras não querem) levar esta vida. Sei que Deus realmente cuida de detalhes que podem ser importantes para nós. Não poderia ser diferente do que sou. Não poderia ter feito escolhas diferentes das que fiz. Hoje, eu gostaria de chegar justamente onde estou.