terça-feira, 30 de novembro de 2010

Vivendo e aprendendo. Será?


Minha filha, de 7 anos chega da escola e diz: “hoje foi o melhor dia da minha vida”, em outro momento ela diz: “esse foi o melhor filme que eu já assisti”, ou “você é a melhor mãe do mundo” , ou “eu tenho a professora que é mais cheirosa da terra” e assim vai uma lista interminável de coisas e pessoas incríveis.

Ser criança é muito bom. Puras, intensas e aproveitam até o ultimo caldinho da goma de mascar, lambem o palito do picolé, o sal dos dedos depois de comer a batata frita, e lambem até o prato (se não as repreendemos).

Crescem, vão conhecendo as “maldades” do mundo, vão aprendendo que existem caminhos, algumas vezes são chamadas a escolhe-los, aprendendo e descobrindo as verdades além dos muros de suas casas.


"Adolescem", questionam os aprendizados recebidos até ali, revoltam-se ou não. Começam a ter verdadeiramente seus espaços. Fazer escolhas torna-se algo mais angustiante, porém necessário. Vivem um mundo de dúvidas interiores.

Ficam jovens, são donos do mundo e do tempo (que não pára) e precisam correr contra ele. O que aprenderam em casa soma-se ao que aprendem diariamente na rua, no trabalho, nos relacionamentos.

Chega a vida adulta e madura, já cheios de responsabilidades, aprendem que não são donos nem do tempo nem do mundo, mas são felizes (ou não) com suas escolhas. Se têm filhos, retransmitem conhecimentos, criam novas formas de educar e aprendem lidar com ansiedades e frustrações.

Chega então a velhice... a bagagem está cheia de uma longa caminhada, afinal, aqui é possível ter nossas vidas repassadas em forma de reflexões. E foi sobre esse momento da vida que ouvi algo que tocou minha alma adulta: precisamos sair dessa vida melhores do que entramos.

De crianças puras a idosos que, muitas vezes, não aprenderam nada com a vida, simplesmente passaram por aqui.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Saudade de quem nunca vi? Como assim?


Sou internauta de carteirinha. Meu notebook fica ligado o dia inteiro e deve sentir-se aliviado quando aperto a tecla “desliga”. Ando com ele até quando levo as crianças para suas atividades ou quando não tenho um bom livro como companhia.

Há pouco tempo entrei em uma dessas redes sociais, chamada facebook, e fui "reapresentada" a uma amiga virtual da minha irmã. Ela gosta de escrever como eu e tem um blog como eu (porém sempre atualizado) que passei a seguir. Começamos a nos falar (leia-se teclar) com comentários diários sobre uma coisa ou outra que ela ou eu escrevíamos. Depois começamos a trocar e-mails com sugestões, indicações e piadinhas (ninguém é de ferro). Ela mora no Sul e eu no Sudeste, cerca de 1700km de distância uma da outra, mas a vantagem do mundo virtual é essa, não há barreiras. Viva a tecnologia!

A tecnologia também, já me permitiu conhecer uma outra apaixonada por livros, que deixou de ser simplesmente amiga virtual, quando participei de uma corrida de rua em Porto Alegre e tive a oportunidade de conhece-la pessoalmente. O Sul é terra fértil em produzir e abrigar “gente do bem”.

Mas voltando a história, fiquei uns dias longe da telinha, pois recebia em minha casa uma afilhada grávida, que enfrenta alguns problemas com o bebê. O trabalho teve que esperar, os filhos, marido e a casa receberam o básico de mim, pois era hora de apoiar quem precisava.

Quando voltei a me comunicar, contei para minha nova amiga sobre o ocorrido e ao me despedir no e-mail, expressei minha saudade.

Mas, como assim? Saudade de alguém que eu nunca vi? Que conheço por fotos e textos?
Me diverti com essa idéia e pensei: "estamos nos acostumando a criar vínculos virtuais". Que seja! Desde que sejam saudáveis. E, no meu caso, são absoluta e deliciosamente saudáveis. Geram até saudade.

Marthinha Querida, estou sem perspectivas de ir correr em POA novamente, portanto, que tal fazer as malas e curtir uns dias nas Minas Gerais?

Beijos e saudades de ti guria, oops, como assim, uai?...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

“Tenha uma vida rica de vida”


Li esta frase em um texto de Maria Sanz Martins, “Minha Precoce Nostalgia”, que narra a conversa de uma senhora de 82 anos dando sábios conselhos à neta. Dentre as várias coisas que ela diz, a recomendação da atitude “tenha uma vida rica de vida”. Guardei com todo cuidado.

Será que uma vida, rica em vida, significa apenas ter uma vida repleta de alegrias? Claro que não é só isso! Vai muito além. O cuidar-se, amar-se, está embutido aí.

A luta contra o câncer de mama atravessa uma longa estrada e vem crescendo a passos largos na busca da conscientização da mulher sobre a importância de se cuidar.

Desde tenra idade, somos acostumadas a cuidar de muitas coisas. Das bonecas e brinquedos, ao marido, filhos, casa, trabalho, amigos, filhos de amigos, bichinhos de estimação, plantas, enfim, não faltam coisas e pessoas para cuidarmos. Somos cuidadoras natas. E cuidamos tanto de tudo que, as vezes, esquecemos de cuidar de nós mesmas.

Não temos título de posse da nossa saúde, isso a Deus pertence, mas temos um alvará de liberdade para administrá-la da melhor maneira possível. Dedicar tempo a nós mesmas, visitas regulares ao médico, auto- exame constante, busca de uma vida saudável e equilibrada (se é que isso é possível nos dias atuais), são algumas das atribuições contidas em nosso “alvará”.

Ter uma vida rica em vida, envolve nossas atitudes em relação a tudo o que nos cerca, e nossa saúde engloba isso aí também. Muitas vezes, somos cercadas pela ilusão de invensibilidade, justamente por saber que tantos precisam de nós. Parei para uma autocrítica e percebi que muitas vezes, sinto uma dorzinha aqui, outra ali e nunca acho tempo para investigar. E ainda tem o agravante de que tudo se resolve sem que eu precise ir ao médico. Na minha cabeça, ir ao médico é perder tempo.

Então, esse Outubro Rosa trouxe um novo ensinamento: cuidar-me nunca é perda de tempo. Eu mereço. Eu preciso.

Um restinho de Outubro Rosa para todas. Que de novembro a setembro não se enfraqueça a luta, tão importante para todas nós!

sábado, 9 de outubro de 2010

O Tapete Amarelo


Moro em um extremo da minha cidade e meus pais em outro. Esta distância dificulta a assiduidade à casa deles, lar onde nasci e vivi até meus vinte cinco anos. Um apartamento pequeno, mas sempre muito bem cuidado e, constantemente, reformado pelas incansáveis buscas de mudança aspiradas pela mãe. O que ela não conseguia mudar na vida dela acho que, inconscientemente, ela transferia para mudanças físicas do lar. Parece uma casinha de bonecas.

Esta semana, com minha mãe curtindo um pouco de paz em Aracaju, estive mais presente para dar suporte ao meu pai, que se recusou em ficar na minha casa enquanto ela viajava. No silêncio característico daquela casa, tudo estava diferente, mas estranhamente, tudo estava em seu devido lugar. Meu quarto ainda com minha grande foto na parede, o armário da minha infância, branco como neve com portas cheias de segredos e sonhos. Gostava de esconder-me onde minha mãe guardava as roupas de cama. O espelho não está mais lá, foi transferido para uma parede esquecida.

Na sala, a luz de penumbra que iluminou tantas vezes minhas apresentações vestidas com aquela camisola longa e sapatos de salto que sobravam em meus pés, já não é mais utilizada. A TV não é a mesma, nem na sala habita mais. Cada quarto possui uma, proporcionando a individualidade/individualismo da vida moderna.

Na pequena cozinha falta a mesa marrom, encostada na parede, onde fazia a lição de casa, onde almoçava, onde a Dos Anjos passava, semanalmente, a roupa que a família acumulava e que os três turnos de trabalho da minha mãe não permitiam sobrar tempo para administrá-la.

No corredor o espelho que eu adorava ajudar a pintar a moldura com tinta spray, deu lugar a um moderno objeto de decoração. O antigo vive sem moldura no lavabo do meu, contraditoriamente, espaçoso apartamento. Mas agora é outro, reflete novas imagens, novas vidas.

No banheiro estava lá, o tapete amarelo. Hoje nem tão amarelo como há muitos anos atrás, mas resistiu a todas as pisadas molhadas, após banhos demorados onde eu podia ser princesa, bailarina, professora ou, simplesmente eu mesma.

Como ele resistiu a tantos anos? Descobri que ele estava esquecido no armário. Há mais de vinte anos não era usado. Voltou ao banheiro por acaso, pois meu pai não encontrou outro durante ausência turística da minha mãe. Alegrei-me ao vê-lo tão inteiro...

Tenho acompanhado de forma reflexiva, o envelhecimento de meus pais, dos pais de meus amigos, da minha sogra. Alguns bem inteiros e ativos, outros nem tanto. Alguns esperam a morte chegar, outros nem esperam mais nada. Será que a nossa geração vai resistir às “pisadas” como a geração dos nossos pais resistiu? Ou, como aquele tapete amarelo, estamos colocando nossos idosos num canto qualquer do armário e nos esquecendo deles?

O tapete amarelo era apenas um simples tapete, mas trouxe com ele muitas lembranças. Me fez pensar, pensar e repensar...

terça-feira, 27 de julho de 2010

Quero ser "Maria"

Existe uma passagem na Bíblia em que conta a história de uma mulher chamada Marta que, em certa ocasião, hospedou Jesus em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria que não desgrudou de Jesus para ouvir Sua Palavra. Marta corria de um lado para outro organizando o melhor de sua casa para oferecer a Jesus, no entanto quem mais usufruiu do “banquete” foi sua irmã Maria (Lc 10.38)

Vivo um momento muito Marta em minha vida. Passo o maior tempo em casa, me multiplicando em dez para dar conta de tudo. Sou mãe, esposa, representante comercial, dona de casa, filha, nora, amiga, quebra-galho, entre outras atribuições. Tudo isso, em um dia que só tem 24 horas.

E, no que diz respeito aos meus filhos, dei-me conta de que a Marta está mais presente em casa e em suas vidas, do que a Maria. Estou aqui, mas não estou com eles. E, o pior, perdendo o que eles tem de melhor, que é a infância. Ela está andando a passos largos e eu perdendo o banquete...

Nessas férias (deles, pois estou longe de pensar em férias), descobri que precisava “mudar o rumo”. Nada de acampamento com os coleguinhas, nada de colônia de férias do clube. De forma bem egoísta, quis eles só para mim. Quis resgatar um pouquinho da mãe que brinca, da mãe disponível. Estou tendo que reaprender a soltar pipa, andar de bicicleta, nadar no frio, jogar basquete, peteca, UNO, Monopoly, brincar de salão de beleza, casinha. Deixá-los quebrar os ovos para o bolo, pedir para ler as receitas, fazer bichinhos com massa de biscoito. Ir ao cinema a tarde. Ler livros com caras e bocas. Assistir desenhos na TV, pegar filmes na locadora, enfim, estar realmente com eles.

Só respondo os e-mails e resolvo coisas do trabalho bem cedo, antes deles saírem da cama ou quando eles se cansam de mim (triste reconhecer que cansam de verdade). Leio meus livros e escrevo meus textos antes de dormir (como fiz ontem, as 00:24, já que tinha que postar este texto no Mulher Ocupada naquele dia), mas só me interessa não perder de vista o banquete...

É muito contraditório quando nosso desejo de SER se esbarra nas necessidades do TER essenciais a eles (escola, curso de línguas, esporte, etc). Fazemos malabarismo com o orçamento doméstico para dar conta de tudo, e o “perigo” desse impasse é nos afogarmos nos afazeres enquanto os dias passam, sem piedade, por nós. Ficam o SER e o TER pela metade, incompletos.

Uma amiga me enviou um artigo que abordava sobre um livro da filósofa e feminista francesa Elisabeth Badinter, contra as exigências da mãe perfeita. Mas será que é querer ser perfeita não se conformar em perder o banquete? Felizmente sou das mais imperfeitas possível, e dentro de toda minha imperfeição vou tentando usar e abusar da criatividade (que penso ser forte aliada à falta de recurso financeiro), maximizando meu tempo e burlando a Marta que vive batendo à minha porta.

Ainda faltam cinco dias para terminar as férias, estou fisicamente muito cansada, mas emocionalmente muito feliz por saborear o precioso banquete da minha vida.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Despedida

Meu rapazinho tem ursinho de pelúcia e, desde que nasceu, o adotou como seu companheiro noturno. Sempre dormiu com o bichinho. Seu amigão!

O que era um mimo virou um problema com o passar dos anos. Ele não conseguia deixar de dormir com seu Teddy (nome do ursinho).

Eu achava um absurdo um menino de oito anos ainda precisar de ursinho de pelúcia para fazer-lhe companhia. A “D. Culpa” me acusava de ter tropeçado em alguma etapa (ou, mais alguma) que fez com que meu rapazinho não vencesse seus medos noturnos.


Toda noite eu perguntava a ele: “filho, você não acha que já tem idade para dormir sem seu Teddy?” e ele sempre dizia: “sem ele eu não durmo”.

Um certo dia, ele me pediu para comprar vinte pacotinhos de figurinha, e eu pensei: é agora! Negociei com ele a troca do urso pelas figurinhas. No primeiro momento, ele disse que não trocaria, e eu sugeri que ele pensasse no assunto.

Naquela manhã ele foi guardar sua “muleta noturna” com uma carinha de pesar, como se estivesse se desculpando com o bichinho. À noite ele pediu para deixar o Teddy onde poderia vê-lo e, se sentisse necessidade, o pegaria para dormir.

Acordou na manhã seguinte muito confiante, pois havia conseguido dormir sozinho. Propus mais um dia de teste para ele ter certeza de que não se arrependeria.

Ele conseguiu! E agora planeja ir a banca de revistas, comprar suas vinte embalagens de figurinhas.

Mas vocês devem estar se perguntando: qual a importância desse fato tão bobo?

Ele me leva a pensar em muitas coisas, como insegurança, coragem, escolha, vitória, mas foi o rompimento que mais chamou minha atenção.

Desde bem pequenos, temos que lidar com rompimentos. Começamos pelo cordão umbilical e terminamos com a nossa morte. E, com exceção desse último, esses rompimentos são necessários e saudáveis embora, em alguns momentos, dolorosos também.

Por mais desprendidos que possamos ser, quando recebemos um “xeque mate”, engolimos seco e pensamos em recuar. Romper assusta. Em contrapartida, romper engrandece.

Aquela criança não sabia que não precisava mais daquele “amuleto”, por isso não queria deixa-lo. Ela criou uma falsa dependência que a impedia de libertar-se.

E nós também agimos assim. Ficamos presos a situações e a pessoas, que muitas vezes poderiam facilmente ser deixados, mas estamos tão viciados a elas, que parece que realmente são essenciais.

Quando vemos que é possível sobreviver, sair ileso e, na pior das hipóteses, um pouco feridos, lamentamos não ter tido coragem anteriormente.

É preciso coragem sim. Rompimentos não acontecem de um dia para o outro. A idéia vai sendo nutrida e as forças vão sendo armazenadas para o grande momento.

Eu venho ensaiando a autonomia dos meus filhos há algum tempo. Sei que eles são capazes, estão preparados para essa independência (coerente com a idade deles), mas sou eu que preciso deixar meu “ursinho de pelúcia”. Alguém tem figurinhas para me dar?

sábado, 19 de junho de 2010

Quem canta seus males espanta. E quem escreve também!

Nem só de sol são feitos os dias. Às vezes, eles são tão cinza, que é melhor nem sair de casa porque a sensação é de que um raio cairá sobre nossa cabeça. E hoje acordei em um desses típicos dias cinza. Um mal humor que eu mesma não me suportava. O dia seria longo...

Que atire a primeira pedra quem nunca se sentiu assim.

Queria ficar calada, não fazer nenhuma das minhas obrigações, ficar quieta em casa, mas, absolutamente nada do que queria, eu podia fazer.

Tive que conviver comigo.

Conforme as horas foram passando, aquela comichão ia se remexendo dentro de mim, mas aguentei firme para não cuspir fogo nos que cruzavam meu caminho.

Foi só no fim da tarde, quando consegui ficar sozinha, calada, é que pude refletir. Estava tudo terrivelmente bem comigo e com todos os que amo, então porque aquele azedume todo?

Dei-me conta de que estava na TPM.Detesto atribuir aos outros a culpa pelas minhas atitudes, mas essa maldita trinca de letras é mais complexa do que eu poderia prever.

Eu estava mal humorada por estar mal humorada, alguém consegue entender isso? Eu não! Se eu conseguisse me sacudir, não hesitaria.


Calma, June! Calma! Vai passar...

Foi então, que comecei a escrever. À moda antiga: papel e caneta, nada de laptop. Escrever e rabiscar, ficar fazendo desenhos enquanto nada vinha à mente. Que doce remédio! Escrevi aleatoriamente, coisas soltas, talvez sem sentido, mas fui escrevendo como quem compõe uma canção. A minha canção de cura.

Aquele mal humor foi se esvaindo, abandonando um corpo cansado de ficar carrancudo e comecei a suportar-me melhor.

Felizmente, foi um mal humor transitório. Tenho um colega que manda diariamente e-mail com o título “bom dia, Marília!” e ele explicou que Marília era uma funcionária tão mal humorada que quando ela chegava ao trabalho, ele ia logo dizendo com muita ênfase: “Boom diia, Marília” para ver se ela melhorava um pouquinho a cara. Que horror, que desperdício de vida!

Terminei o dia indignada por ter perdido um precioso dia com meu mal humor. Mas ele rendeu-me este texto, o que me faz confirmar que em tudo nessa vida, podemos tirar algo de positivo.

Ainda bem que escrevi e espantei esse azedume de mim. Caso contrário, poderia ter ouvido: “boooa noooite, June!” e penso que não seria nada bom...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Muito prazer! Quero apresentar-lhe a você mesmo.


Seria inusitado se alguém nos dissesse uma coisa dessa, uma vez que pensamos nos conhecer muito bem.

Em parte, sabemos de nossas reações, nossos defeitos e qualidades, mas já vi gente se perder no meio do caminho e depois, não conseguir mais se reconhecer.
Complicado, não?

Já pensou como deve ser se olhar no espelho e, como diz a música do Lulu Santos, “a gente não se reconhece ali”. Acho que, em algum momento, todos nós já nos sentimos assim. Algo passageiro de resgate fácil. Se hoje eu “me estranhasse”, tentaria me reconstruir, porém um pouco melhorada (que óbvio!)

Somos o que repetiram para nós anos e anos ou somos a libertação de um cárcere do destino, fazendo assim uma nova história, um novo autoconceito.

Somos nossas lutas, nNossas vitórias e derrotas, nossos erros e acertos. Somos nossa coragem e covardia, egoísmo e desprendimento, somos nosso carinho e nossas carências, mas grandiosamente, somos. E como isso é maravilhoso! Viver sem precisar que ninguém nos apresente.

Podemos ser quem inventamos, mas somos realmente o que não dominamos.

Se você me perguntar como sou ou quem acha que sou, minha resposta obviamente irá depender de como você age/reage comigo, o que você permite que eu veja.

De uns, posso dizer que são amáveis, sensíveis, justos, inteligentes, encantadores ou até mesmo desligados. Os egoístas, insensíveis ou prepotentes, com certeza não ouvirão o que penso a seu respeito. Normalmente prefiro fazer suco saboroso e isso só é possível quando extraímos o melhor que percebemos no outro. Existem pessoas que olhamos para elas e dizemos: “não mudaria uma vírgula em você”. São aquelas que admiramos. Já outras... não vale a pena nem fantasiar uma mudança.

Tem gente que se esconde atrás de uma casca tão grossa que não conseguimos nem enxergar o que tem por dentro, mas usam isso para se proteger, porém, com o passar do tempo, essa casca vai se solidificando de tal forma, que fica difícil tirar o sujeito lá de dentro. Nem ele lembra mais quem é.

Como tudo na vida, existe o exacerbado e o insignificante, mas buscamos mesmo é o ideal. E o ideal é olharmos no espelho e sentirmos que aquele que vemos somos nós mesmos, sem precisar que o outro “nos apresente”. Com todas as nossas limitações e imperfeições a auto-aceitação é fundamental. E, sentir um orgulho nada prepotente ou narcisista do que somos, é sinal de que tudo vai bem.

E, depois de toda essa divagação, se por charme, ou por curiosidade você ainda quiser realmente saber o que penso a seu respeito, basta mostrar-se, terei o maior prazer em dizer o que vejo e apresentar-lhe a você mesmo!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

De braços abertos


Hoje vou ser breve.
Estava revendo umas fotografias e me dei conta de uma constante: em várias ocasiões abro os braços ao ser fotografada.
Este fato hoje, especialmente hoje, chamou-me a atenção. Convidou-me a refletir.
Em primeira análise busquei identificar quando foram tiradas (se em viagens, corridas, festas). Em segunda análise, tentei resgatar na memória como me sentia naquele momento.
Braços abertos são uma mistura de alegria, com liberdade, doação e gratidão. Tem de tudo um pouquinho. As vezes, até leve sacrifício em começar a fazer algo que não queria, mas que depois isto se reverte em profunda felicidade. Um ato involuntário, mas que vem como uma onda, da ponta dos pés aos dedos das mãos, espalhando-se em forma de sorriso estampado no rosto.

Como em um desenho animado, uma florzinha enroladinha ao amanhecer, que ao ver o sol, se desenrola e abre suas pétalas alegremente, brindando um novo dia que acaba de chegar.
Braços abertos para abraçar cada momento que foi eternizado através da foto.

Braços abertos para agradecer a oportunidade de estar ali, naquele momento.

Braços abertos como se eu fosse realmente sair voando por aí.

Braços abertos para a vida...

Cada uma tem vibração e intensidade próprias. Cada um tem seus motivos para abrir ou não os braços. Para agradecer ou lamentar, para ser livre ou preso nas cadeias criadas por si mesmo, que impedem de sonhar, de buscar novas alternativas ou até mesmo de usufruir cada preciosa gota de vida que nos é diariamente renovada.

Armar ou desarmar, receber ou se trancar, doar ou negar? Tudo bem, passamos por momentos sem cor em que não é possível abrir os braços, mas nada nos impede de renascer, mais fortalecidos e dispostos a seguir em frente.

Para quem não experimentou, eu recomendo! Solte-se, abra os braços, como se fosse abraçar algo enorme, como a vida, por exemplo. Você vai perceber que, se esforçar-se, conseguirá abrir os braços ainda mais um pouquinho.

quinta-feira, 13 de maio de 2010


Faz algum tempo que assisti uma comédia romântica, daquelas “água com açúcar”, em que uma menina passa por um momento ruim e deseja ser mais velha. De repente ela tinha seus 30 anos de idade.

Não me lembro de desejar chegar aos 40, mas eles chegaram e estou sentindo-me tão jovem (em vigor e ânimo), que brinquei com um amigo: “acho que estou completando 25 anos”. (Como os parâmetros mudam depois de uma certa idade!).

Talvez a “melhor idade” deveria ser nessa fase da vida, onde gozamos de boa saúde, nosso corpo ainda nos obedece, nossa mente é absolutamente ativa, somos independentes, enfim, todos os argumentos para dizer e sentir que podemos usufruir intensamente dessa nova fase. Ela sim, é a melhor idade.

O rosto mostra que alguma caminhada já percorri. Os fios de cabelos brancos comprovam que os problemas foram enfrentados com seriedade, o corpo maduro, ainda não passou do ponto e a experiência... ah, essa não tem preço. Não sabia aos 20 o quanto ela era valiosa. Pena que não podemos adquiri-la antes do tempo.

Mil idéias para comemorar a virada de década. Algumas não cabiam no bolso, outras não cabiam na agenda apertada, então sobrou a melhor das idéias, comemorar ao lado das pessoas que são importantes na minha vida.

Aos 40 anos, posso reconfirmar que o que temos de mais precioso, depois da nossa saúde, são as pessoas que escolhemos para estar ao nosso lado, trilhando os mesmos caminhos, rindo, chorando e sonhando. É ao lado dessas pessoas que quero comemorar (vou apenas sentir falta das que não moram aqui...).

Se fosse representar nosso ciclo de vida em um gráfico, penso que, os 40 anos seria aquele pontinho no ápice da representação. Agora é inevitável “descer a serra”, mas não uma descida triste, fúnebre ou decadente. Ela é alegre e divertida. Pode ser leve, se assim a permitirmos. Subimos tão rápido que a descida tem agora uma perspectiva diferente. Talvez seja nesse momento, que possamos contemplar a paisagem. Até aqui, a série de compromissos e almejos profissionais e pessoais, deixam sobrar pouco tempo para contemplação.

Para um corredor, a descida pode representar danos ao joelho (se não estiverem fortalecidos), mas é na descida também que um corredor pode soltar os braços para recuperar o fôlego da árdua subida que a precedeu. Então, vou soltar meus braços, segurar o corpo e proteger os joelhos para curtir deliciosamente esta descida que se inicia.

Quando nos damos conta de que uma contagem regressiva irá nos alcançar é que revemos conceitos e escolhas. Se não perdermos a vibração, a energia e a alegria de viver, essa tal contagem regressiva vai encontrar alguma dificuldade para nos alcançar.

Análise feita, compreensão concluída do que representa essa nova etapa, resta agradecimento por ter chegado até aqui, tão viva e tão cheia de sonhos e realizações. Pois, foi aos 40 anos, que descobri , que embora tenha vivido muito, sei que tenho a oportunidade de viver ainda mais.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Um alfabeto de planos


“Cada doido com sua mania” e como boa maluca que sou, tenho, entre várias manias, a de fazer planos. Claro que tento usufruir bem deles enquanto estou viva. Afinal, defunto não tem voz.
Faço planos e planos. Dos mais simples aos mais elaborados. E como todo ser que planeja, frustra também.


Quando percebi, trabalhava com várias alternativas, para os planos mais elaborados. A idéia era minimizar a frustração.


Para cada “Plano A”, existia um “Pano B” e quando me dei conta, já tinha pensado no “Plano C, D, E...” Fiquei preocupada comigo mesma.


Amo surpresas, sair da rotina e, de repente, estava afogada em um alfabeto de planos.


Assustador foi encontrar outros pseudo-estrategistas como eu. Outro dia, conversava com um corredor que tinha se programado para fazer uma prova de 10km em 48 minutos (até então seu tempo era de 50 minutos para este percurso). Seu primeiro plano era conseguir ultrapassar as pessoas na largada (tarefa árdua, quando se corre com cinco ou seis mil pessoas) e fazer o primeiro quilômetro em “x” minutos. Se não conseguisse cumprir essa meta, nessa primeiríssima etapa da prova, ele iria recuperar seu tempo, correndo o segundo quilômetro na velocidade “ y” e assim ele foi me contando todo o elaborado plano. Fiquei tão cansada que quase desisti de correr naquele dia. Porém, minha “ficha caiu”. Esse sujeito foi se divertir (corredores amadores, correm por prazer), completamente armado de planos.


Dei um basta. Nada extremo, afinal, quem tem uma natureza voltada à organização, não sobrevive sem ao menos um planinho A ou B. Mas me dei conta de que esse negócio vira uma prisão. Sufoca qualquer ser.


Senti dó dos meus filhos, meu marido que estão sempre esperando pelo que planejei para o dia. E eles ficam tranquilos, porque se o planejado não der certo, sabem que tenho sempre alguns planos escondidos debaixo da manga.


Nesses últimos dias, nessa nova experiência, estou conseguindo sobreviver muito bem sem meu alfabeto. A forma figurativa para descrever a sensação seria alguém me vendo passar pela rua com os pés flutuando sobre o asfalto.


Agora, se a viagem de férias é para algum lugar que ainda não conheço, escolho o hotel pela aparência e não pela sua localização estratégica (convenhamos, estratégica para quê?). Se houver transferência de cidade no trabalho, deixo para conhecer a nova moradia pessoalmente. Nada de me antecipar na net. Se o final de semana está sem compromissos sociais, fico de bobeira até que surja alguma boa idéia (isso inclui a idéia de não sair de casa). Se passear no zoológico ficou impossível em função da chuva, uma locadora de filmes pode ser uma opção de parada na volta para casa. E assim caminha uma humanidade sem planos.


Não faço aqui, nenhuma apologia ao “deixe o mundo acabar em barrancos para eu morrer encostada”. Todo extremo é prejudicial. Quem não planeja é porque não sonha e, para mim, quem não sonha, não vive.


Vamos encontrar o ponto de equilíbrio da balança. Nem tanto um alfabeto, nem tanto o analfabetismo. Apenas sem preciosismos. Curtição leve e feliz!

sábado, 1 de maio de 2010

Distância de Segurança


Quando meus filhos eram bem pequenos (embora para mim ainda sejam), eles costumavam se queixar das agressões sofridas pelos coleguinhas.

Apesar da grande vontade de dizer a eles: “quando te baterem, dê um empurrão nesse (a) garoto(a) para que ele (a) não te bata mais”. Nunca tive coragem de incentivar tal violência, até mesmo, porque o que sabemos é que “violência gera violência”.

Então ficava o duplo sentimento. Queria que eles se defendessem e ao mesmo tempo queria defendê-los (acho que isso é normal em todas as mães, espero!).

Lembrei-me da famosa “distância de segurança”, ou seja, ensinei a eles que, se um coleguinha tentasse bater, era para eles esticarem os bracinhos para frente e explicar que aquela era a distância de segurança, que, se o coleguinha ultrapassasse, a professora seria chamada.

Acho que funcionou bem, pois pararam de voltar mordidos para casa.
E nós, adultos? Quando é que percebemos a necessidade de “esticar os bracinhos e dizer: essa é a distância de segurança”? Do que precisamos tanto para nos proteger?

Protegemo-nos de muitas coisas. Algumas óbvias, outras nem tanto. Sofrimento, perdas, maldades do mundo, amores, injustiças, despedidas, mudanças e até mesmo da felicidade.
Caminhamos até certo ponto, mas da “linha amarela” para frente, tememos ultrapassar. Alguns mais corajosos, cerram os punhos e enfrentam a luta, mas a maioria de nós escolhe o caminho mais curto, que é o de evitar qualquer tipo de dor.
Ensinei isso aos meus filhos que, provavelmente, ensinarão aos seus filhos e assim sucessivamente.
Segurança... uma das palavrinhas que fazem parte do nosso cotidiano e das nossas necessidades básicas. Maslow a descreve muito bem. Mas talvez, nosso instinto de autopreservação possa nos tirar oportunidades de crescimento. Se tenho o hábito de esticar os braços impedindo que o novo se apresente, a grande probabilidade é que eu me feche em meu mundinho seguro e previsível.
Sabemos das nossas limitações, sabemos quando se faz necessário externar as “regras do jogo”, e assim viver um dia após outro, desejando que, em vários aspectos da vida, não seja mais preciso esticar os braços. E, pelo contrário, que possamos abri-los em forma de abraço para acolher nossas lutas, tornando-as mais leves, domáveis, porém sem permitir que cicatrizes sejam espalhadas em nossa existência.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Tempo meu, tempo meu, quem te roubou de mim?


Felicidade é algo indiscutivelmente pessoal. O que é ser feliz para um, definitivamente não se traduz em felicidade para outros.

Temos, diariamente, inúmeras oportunidades de refletir sobre nossa felicidade (ou infelicidade), mas, embora "clichê", vale dizer que "a vida é feita de momentos" e a perspectiva pela qual avaliamos e vivemos cada um desses momentos é que gera um saldo final em nosso "livro caixa", que pode ser positivo ou de total falta de reservas.

Ter tempo para mim, é algo que faz-me sentir muito feliz, quando a perspectiva em questão é a minha liberdade. Há mais de um ano que faço parte de um grupo de pessoas que adora calçar tênis, colocar um short, uma camiseta e sair correndo pelas ruas.

Faço do esporte um momento de dedicação pessoal. Três vezes na semana, há na agenda um momento exclusivamente meu.

Se quero forçar, se quero fazer subidas, trotes, ouvir música ou não, são escolhas que faço pelo simples fato de ser, naquele momento, dona de mim. Minha única cobrança são os ponteiros do relógio, que correm mais que minhas pernas. Se não fossem eles...

As corridas já me levaram a vários lugares e como viajar é também uma outra perspectiva de felicidade (pelo menos para mim), correr fora do Brasil fez parte dos planejamentos de início de ano.

E, apesar de bem acompanhada por mais quatro amigas, embarquei com mala e cuia para outro país. Deixei para trás marido, filhos, trabalho e fui.

Posso garantir que, mesmo quando a saudade batia, eu me sentia feliz por estar comigo.

Essa sensação de liberdade é naturalmente engolida por nosso cotidiano e por nosso amor que também nos torna plenos e felizes ao lado das pessoas queridas.

Do embarque ao desembarque, fui deliciosamente "eu"! Amo ficar com quem amo, adoro meu novo trabalho, mas convenhamos, comer sem ter que servir (e o melhor, comer quente), tomar um banho sem correria, dormir sem ter que levantar para fechar janelas ou cobrir os pequenos é uma sensação de total falta de compromisso.

Podem chamar isso de egoísmo. Foi mesmo. Mas que santo remédio para renovação de forças. Tenho energia estocada por um bom tempo.

O retorno trouxe gratidão. Graças a vida cheia de saúde e de pessoas queridas é que se torna possível experimentar outras nuances da felicidade. Descobri que o grande "ladrão" do nosso tempo, são nossas escolhas e elas as maiores responsáveis pelos conceitos de felicidade que carregamos.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Fada existe?



No finalzinho das férias, levamos as crianças para assistir "O fada do dente".

O filme conta a história de um jogador de hóquei, de segunda divisão, "especializado" em destruir não só os dentes de seus adversários, como também o sonho de muitas crianças que o admiravam.

Mas as fadas o condenaram com uma dura pena: foi sentenciado a ser verdadeiramente um fada do dente por uma semana.
O filme transcorre com "o fada" esvaziando a dureza de seu coração e vivendo também as conquistas de seus próprios sonhos (que era voltar a ser um jogador de sucesso).

Voltamos para casa, com as crianças profundamente inclinadas a acreditar que a Fada do Dente existe.

Tratar os assuntos da fantasia por aqui, sempre foi pincelado com toque de racionalidade. Não de forma destrutiva, mas questionadora, para que as crianças tirassem suas próprias conclusões.

É muito engraçado quando eles têm dúvida sobre algum assunto dessa natureza. Parece uma balança. Um lado se inclina para a razão, mas o coração é totalmente voltado para a fantasia.

O saci, o papai noel, o coelhinho da páscoa e tantos outros que para eles não passam de personagens de livrinhos, esbarraram agora com a "verdade" de um filme. Ele balançou a cabeça e a emoção. Fada existe?

Na noite passada, um incisivo central abandonou uma boquinha feliz e não resisti a uma brincadeira. O dente que estava debaixo do travesseiro "desapareceu", e no lugar uma cédula enroladinha foi colocada.

Foi sensacional!

Na madrugada, o dono do dente "capturado" acordou convicto de que tinha sido visitado pela fada do dente.

Na manhã seguinte, fui questionada sobre quem realmente esteve no quarto (olha o racional brigando com a fantasia). Omiti, claro! E agora a dúvida paira no ar...

Incluir as crianças em nosso mundo real leva a um amadurecimento precoce. Tira a oportunidade de deixa-las "caminhar por ruas com pedrinhas de brilhante".

A escola vem atribuindo a estes pequenos, uma carga muito grande de responsabilidades. O mundo moderno, o futuro assustadoramente competitivo, nos pressiona contra parede, exigindo que façamos escolhas do que é "melhor" para eles.

Eu vinha esquecendo que eles são crianças e, na noite passada, resgatei a alegria de ve-los sonhar, numa mistura "amadurecidamente infantil", de acreditar nos "contos de fada".

quarta-feira, 24 de março de 2010

"Inutilidade" Humana


Falamos tanto sobre o quanto o ser humano é frágil, sobre o quanto somos impotentes, mas sempre baseados no racional, ou no que lemos ou ouvimos.

Enquanto gozamos de boa saúde, tudo isso fica numa esfera distante e inatingível, até que vem um insignificante mosquitinho, criado na casa de quem não deve cuidar nem do próprio umbigo, e te diz: vou te derrubar!

E o pestinha derruba mesmo.

Derruba seu corpo, sua mente e suas emoções. É a verdadeira sensação de "inutilidade" humana. Eu estava com dengue.

Engraçadas são as perguntas: "como você pegou isso"? ou "onde você pegou isso"?

Onde, quando e como já nem me interessavam mais. Para ser sincera, não consegui nem espiritualizar a coisa e pensar no "por que". Eu queria mesmo é que Deus permitisse que eu "sobrevivesse".

Eu tinha que "sobreviver" a uma casa de pernas para o ar, ao dever de casa feito "meia boca", ao almoço no restaurante sem a menor vontade de tirar o carro da garagem (o que dirá fome, que era nula ou inexistente). E-mails pipocavam na caixa de entrada do computador, com assuntos para serem resolvidos, mas ficaram lá... sem solução.

A dor que nasce na ponta dos dedos dos pés e prolonga até os fios de cabelo, já nem era motivo de pedido de sobrevivência.

O que não tem remédio, remediado está (adoro isso). Deixei tudo pra lá. Fui assistindo ao caos passivamente. Vivendo literalmente um dia após o outro. Uma dor após a outra.

E, como num passe de mágica, tudo desaparece. A cabeça volta a ter seu peso normal, o corpo começa a responder aos comandos da mente, o estômago abre a boca e grita com eco: "tô com fome!". E tudo começa a entrar nos eixos.

Os mosquitos continuam a circular , as pessoas continuam a não se importar com a própria segurança e com a segurança alheia (não estou generalizando), mas a vida segue seu caminho. Só me resta torcer para que esse surto passe logo.

Xiii! Já estão falando de H1N1. Será que irão só variar o nome dos nossos temores?

Ei-nos aqui, totalmente impotentes outra vez.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Um comentário infeliz


Estava na sala de espera de um consultório médico, no dia em que se comemora o "Dia Internacional da Mulher", quando um respeitável representante de laboratório chegou para uma visita.
Como esperado, ele parabenizou as mulheres presentes. Até aí, tudo normal.
Confesso que não me ligo nessas datas. Respeito quem as curte, mas para mim é uma grande besteira. Sou mulher todo dia, sou mãe todo dia, sou amiga todo dia, mas isso é outro assunto...
O ilustríssimo representante começou a "elogiar" sua esposa: "ela é uma excelente mulher. Arruma a casa como ninguém, é impecável para lavar minhas roupas. A comida dela ninguém faz igual. Se um dia ela me deixar, sei que serei um homem perdido".
Respirei fundo, contei até mil e fui (ou ele foi) "salva(o) pelo gongo". Envolvi-me em minha consulta e por algum tempo esqueci aquele homem.
Quando cheguei em casa e fui compartilhar o ocorrido, minha indignação voltou.
Não sou contra ninguém que curte cuidar da casa e faz isso com esmero, mas ser "reconhecida" como uma "grande mulher" porque os serviços domésticos são de extrema qualidade, foi demais para mim.
Os atributos que ele vê na esposa são perfeitos para um anúncio de classificados de jornal: "Procura-se por uma doméstica que arrume bem, lave e passe com capricho, que seja exímia cozinheira, com direito a dormir com o patrão".
Elogios para uma esposa dedicada poderiam ser vários: carinhosa, cuidadosa, companheira, amiga, enfim, não faltam atributos para uma mulher que tem um serviço diário exaustivo dedicado à família.
Francamente, espero que essa mulher seja muito feliz com o marido que tem, porque se não for, que ela dê um pontapé bem forte no traseiro desse homem que teve a audácia de "elogiar" o fato dela ter tirado o lodinho do banheiro no domingo, enquanto ele estava jogando futebol.
Um verdadeiro comentário infeliz!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Doente de Raiva


Raiva, por si só, é uma palavra pesada. Saber que alguém ficou com raiva da gente ou, sentir raiva de alguém, é carga difícil de se carregar.

Provocar ou sentir mágoa, embora seja mais profundo para sentir, é mais leve ao falar.

A fala é algo muito interessante e as “forças de expressão”, são ainda mais.

Já ouvi várias e disse inúmeras. “Estou morrendo de fome” é uma das mais usadas e para quem me conhece, este é um mal que não me acomete fácil. Raramente sinto fome, o que dirá morrer “dela”.

Mas, ficar “doente de raiva” foi uma experiência um tanto quanto divertida e construtiva. Calma! A raiva foi séria. Na hora tive vontade de dar um chute na canela de quem a provocou. Só que, no dia seguinte à raiva, perdi a voz e foi muito divertido.

A princípio, pensei tratar-se de um quadro alérgico, só que não tinha nenhum precedente para tal. Depois pensei ser uma crise de asma despontando, mas não era nada disso (o pneumologista garantiu que minha capacidade pulmonar estava em excelente estado).

Então pensei: Deus é tão sábio, que me calou! Com todo respeito à inquestionável sabedoria de Deus, descobri o que aconteceu: meu emocional gritou tanto com a raiva que calou o meu corpo.

Afônica. Foi assim que fiquei.

A raiva, agora passada, descobri que nem tão grande assim ela foi. Ficou resolvida no dia seguinte à sua “não explosão”. E eu sou lá de explodir por alguma coisa, ou com alguém? Normalmente escuto, reflito, pondero e resolvo, mas nunca com explosões. Só que, os efeitos dessa raiva específica perdurou por duas semanas.

E foi ótimo! Voltei para mim mesma na busca de uma cura que precisava ser interior. Ninguém pode me abalar nessa proporção.

Eu falo muito. Muito mesmo! Exercitar o silêncio é uma dificuldade, quase tarefa impossível. Mas “doente” como estava, se quisesse voltar a falar, tinha que repousar a voz.

Nada de telefone, nada de celular, nada de orientar as crianças. Falar com o marido, só ao “pé do ouvido”. Uma isenção total. Quase férias da “general” que vive em mim, ditando ordens para que eu tente manter a vida de todos em ordem.

Espero não ficar um dia “louca de raiva”, pois não sei como meu corpo reagiria...


Adeus Quadradinhos


Dois mil e nove foi um ano que terminou tão atropelado que nem tive tempo, ou inspiração, ou os dois juntos para escrever. Os “quadradinhos” ficaram inertes na página deste blog. Desculpem-me por isso!

Mas no dia 31 de dezembro fiz aquele tradicional “balanço” para ver com que saldo iniciaria minha conta pessoal em dois mil e dez.

Antes do ano acabar, tive tempo de ler no blog “Arquivo XX” (
http://arquivoxx.blogspot.com/ - recomendo!) um texto de Luciana von Borries que dizia, entre outras coisas muito pertinentes, que deveríamos tentar fazer uma lista de agradecimentos. E foi assim que comecei o “balanço”. Como as coisas mudam de perspectiva quando estamos dispostos a ver o seu lado positivo!

Eram tantos os motivos de gratidão: recuperação maravilhosa do infarto sofrido pela minha mãe, o diagnóstico em tempo hábil evitando o infarto do meu pai, o desenvolvimento normal dos meus filhos, meu marido me aturar por mais um ano (ai ai ai se ele confirmar esta fala...), minha casa gostosa e aconchegante, minhas viagens, minhas corridas, meus trabalhos na ONG, meus amigos, enfim, como a Luciana disse, a lista mental (a minha foi mental mesmo) foi ficando agradavelmente tão grande que sobrou pouco espaço para pedidos e promessas.

Depois de refletir sobre tudo de bom que Deus tem me presenteado, resolvi pedir paz. Apesar da paz gerada em função das coisas boas, eu quero para dois mil e dez, um ano de paz!

Abraço tantas causas alheias, sofro com várias delas, que paz cairia muito bem como motivo de gratidão na lista deste ano.

Minha casa sempre foi um reino de paz (exceto, claro, na hora do dever de casa das crianças, que normalmente é um momento desprovido de qualquer paz). Meu ambiente de trabalho foi repleto de paz (trabalhar com o objetivo de trazer melhorias às pessoas carentes, já traz uma paz “impagável”). Viagens, corridas, amigos que dão paz à alma. Então, o que pode tirar a paz de quem a tem suficiente?

Uma paz utópica... Desejar que os problemas dos outros não sejam tão sérios, que o trânsito seja menos violento, que a noite não seja movida por medos, que as escolas sejam ambientes seguros.

A paz que vem de dentro, esbarra na falta de paz dos tempos modernos.

Mas sonhadora que sou, não poderia deixar de pedir que neste ano, eu, você, todos nós, tenhamos um ano com um pouco mais de paz.