quarta-feira, 26 de maio de 2010

De braços abertos


Hoje vou ser breve.
Estava revendo umas fotografias e me dei conta de uma constante: em várias ocasiões abro os braços ao ser fotografada.
Este fato hoje, especialmente hoje, chamou-me a atenção. Convidou-me a refletir.
Em primeira análise busquei identificar quando foram tiradas (se em viagens, corridas, festas). Em segunda análise, tentei resgatar na memória como me sentia naquele momento.
Braços abertos são uma mistura de alegria, com liberdade, doação e gratidão. Tem de tudo um pouquinho. As vezes, até leve sacrifício em começar a fazer algo que não queria, mas que depois isto se reverte em profunda felicidade. Um ato involuntário, mas que vem como uma onda, da ponta dos pés aos dedos das mãos, espalhando-se em forma de sorriso estampado no rosto.

Como em um desenho animado, uma florzinha enroladinha ao amanhecer, que ao ver o sol, se desenrola e abre suas pétalas alegremente, brindando um novo dia que acaba de chegar.
Braços abertos para abraçar cada momento que foi eternizado através da foto.

Braços abertos para agradecer a oportunidade de estar ali, naquele momento.

Braços abertos como se eu fosse realmente sair voando por aí.

Braços abertos para a vida...

Cada uma tem vibração e intensidade próprias. Cada um tem seus motivos para abrir ou não os braços. Para agradecer ou lamentar, para ser livre ou preso nas cadeias criadas por si mesmo, que impedem de sonhar, de buscar novas alternativas ou até mesmo de usufruir cada preciosa gota de vida que nos é diariamente renovada.

Armar ou desarmar, receber ou se trancar, doar ou negar? Tudo bem, passamos por momentos sem cor em que não é possível abrir os braços, mas nada nos impede de renascer, mais fortalecidos e dispostos a seguir em frente.

Para quem não experimentou, eu recomendo! Solte-se, abra os braços, como se fosse abraçar algo enorme, como a vida, por exemplo. Você vai perceber que, se esforçar-se, conseguirá abrir os braços ainda mais um pouquinho.

quinta-feira, 13 de maio de 2010


Faz algum tempo que assisti uma comédia romântica, daquelas “água com açúcar”, em que uma menina passa por um momento ruim e deseja ser mais velha. De repente ela tinha seus 30 anos de idade.

Não me lembro de desejar chegar aos 40, mas eles chegaram e estou sentindo-me tão jovem (em vigor e ânimo), que brinquei com um amigo: “acho que estou completando 25 anos”. (Como os parâmetros mudam depois de uma certa idade!).

Talvez a “melhor idade” deveria ser nessa fase da vida, onde gozamos de boa saúde, nosso corpo ainda nos obedece, nossa mente é absolutamente ativa, somos independentes, enfim, todos os argumentos para dizer e sentir que podemos usufruir intensamente dessa nova fase. Ela sim, é a melhor idade.

O rosto mostra que alguma caminhada já percorri. Os fios de cabelos brancos comprovam que os problemas foram enfrentados com seriedade, o corpo maduro, ainda não passou do ponto e a experiência... ah, essa não tem preço. Não sabia aos 20 o quanto ela era valiosa. Pena que não podemos adquiri-la antes do tempo.

Mil idéias para comemorar a virada de década. Algumas não cabiam no bolso, outras não cabiam na agenda apertada, então sobrou a melhor das idéias, comemorar ao lado das pessoas que são importantes na minha vida.

Aos 40 anos, posso reconfirmar que o que temos de mais precioso, depois da nossa saúde, são as pessoas que escolhemos para estar ao nosso lado, trilhando os mesmos caminhos, rindo, chorando e sonhando. É ao lado dessas pessoas que quero comemorar (vou apenas sentir falta das que não moram aqui...).

Se fosse representar nosso ciclo de vida em um gráfico, penso que, os 40 anos seria aquele pontinho no ápice da representação. Agora é inevitável “descer a serra”, mas não uma descida triste, fúnebre ou decadente. Ela é alegre e divertida. Pode ser leve, se assim a permitirmos. Subimos tão rápido que a descida tem agora uma perspectiva diferente. Talvez seja nesse momento, que possamos contemplar a paisagem. Até aqui, a série de compromissos e almejos profissionais e pessoais, deixam sobrar pouco tempo para contemplação.

Para um corredor, a descida pode representar danos ao joelho (se não estiverem fortalecidos), mas é na descida também que um corredor pode soltar os braços para recuperar o fôlego da árdua subida que a precedeu. Então, vou soltar meus braços, segurar o corpo e proteger os joelhos para curtir deliciosamente esta descida que se inicia.

Quando nos damos conta de que uma contagem regressiva irá nos alcançar é que revemos conceitos e escolhas. Se não perdermos a vibração, a energia e a alegria de viver, essa tal contagem regressiva vai encontrar alguma dificuldade para nos alcançar.

Análise feita, compreensão concluída do que representa essa nova etapa, resta agradecimento por ter chegado até aqui, tão viva e tão cheia de sonhos e realizações. Pois, foi aos 40 anos, que descobri , que embora tenha vivido muito, sei que tenho a oportunidade de viver ainda mais.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Um alfabeto de planos


“Cada doido com sua mania” e como boa maluca que sou, tenho, entre várias manias, a de fazer planos. Claro que tento usufruir bem deles enquanto estou viva. Afinal, defunto não tem voz.
Faço planos e planos. Dos mais simples aos mais elaborados. E como todo ser que planeja, frustra também.


Quando percebi, trabalhava com várias alternativas, para os planos mais elaborados. A idéia era minimizar a frustração.


Para cada “Plano A”, existia um “Pano B” e quando me dei conta, já tinha pensado no “Plano C, D, E...” Fiquei preocupada comigo mesma.


Amo surpresas, sair da rotina e, de repente, estava afogada em um alfabeto de planos.


Assustador foi encontrar outros pseudo-estrategistas como eu. Outro dia, conversava com um corredor que tinha se programado para fazer uma prova de 10km em 48 minutos (até então seu tempo era de 50 minutos para este percurso). Seu primeiro plano era conseguir ultrapassar as pessoas na largada (tarefa árdua, quando se corre com cinco ou seis mil pessoas) e fazer o primeiro quilômetro em “x” minutos. Se não conseguisse cumprir essa meta, nessa primeiríssima etapa da prova, ele iria recuperar seu tempo, correndo o segundo quilômetro na velocidade “ y” e assim ele foi me contando todo o elaborado plano. Fiquei tão cansada que quase desisti de correr naquele dia. Porém, minha “ficha caiu”. Esse sujeito foi se divertir (corredores amadores, correm por prazer), completamente armado de planos.


Dei um basta. Nada extremo, afinal, quem tem uma natureza voltada à organização, não sobrevive sem ao menos um planinho A ou B. Mas me dei conta de que esse negócio vira uma prisão. Sufoca qualquer ser.


Senti dó dos meus filhos, meu marido que estão sempre esperando pelo que planejei para o dia. E eles ficam tranquilos, porque se o planejado não der certo, sabem que tenho sempre alguns planos escondidos debaixo da manga.


Nesses últimos dias, nessa nova experiência, estou conseguindo sobreviver muito bem sem meu alfabeto. A forma figurativa para descrever a sensação seria alguém me vendo passar pela rua com os pés flutuando sobre o asfalto.


Agora, se a viagem de férias é para algum lugar que ainda não conheço, escolho o hotel pela aparência e não pela sua localização estratégica (convenhamos, estratégica para quê?). Se houver transferência de cidade no trabalho, deixo para conhecer a nova moradia pessoalmente. Nada de me antecipar na net. Se o final de semana está sem compromissos sociais, fico de bobeira até que surja alguma boa idéia (isso inclui a idéia de não sair de casa). Se passear no zoológico ficou impossível em função da chuva, uma locadora de filmes pode ser uma opção de parada na volta para casa. E assim caminha uma humanidade sem planos.


Não faço aqui, nenhuma apologia ao “deixe o mundo acabar em barrancos para eu morrer encostada”. Todo extremo é prejudicial. Quem não planeja é porque não sonha e, para mim, quem não sonha, não vive.


Vamos encontrar o ponto de equilíbrio da balança. Nem tanto um alfabeto, nem tanto o analfabetismo. Apenas sem preciosismos. Curtição leve e feliz!

sábado, 1 de maio de 2010

Distância de Segurança


Quando meus filhos eram bem pequenos (embora para mim ainda sejam), eles costumavam se queixar das agressões sofridas pelos coleguinhas.

Apesar da grande vontade de dizer a eles: “quando te baterem, dê um empurrão nesse (a) garoto(a) para que ele (a) não te bata mais”. Nunca tive coragem de incentivar tal violência, até mesmo, porque o que sabemos é que “violência gera violência”.

Então ficava o duplo sentimento. Queria que eles se defendessem e ao mesmo tempo queria defendê-los (acho que isso é normal em todas as mães, espero!).

Lembrei-me da famosa “distância de segurança”, ou seja, ensinei a eles que, se um coleguinha tentasse bater, era para eles esticarem os bracinhos para frente e explicar que aquela era a distância de segurança, que, se o coleguinha ultrapassasse, a professora seria chamada.

Acho que funcionou bem, pois pararam de voltar mordidos para casa.
E nós, adultos? Quando é que percebemos a necessidade de “esticar os bracinhos e dizer: essa é a distância de segurança”? Do que precisamos tanto para nos proteger?

Protegemo-nos de muitas coisas. Algumas óbvias, outras nem tanto. Sofrimento, perdas, maldades do mundo, amores, injustiças, despedidas, mudanças e até mesmo da felicidade.
Caminhamos até certo ponto, mas da “linha amarela” para frente, tememos ultrapassar. Alguns mais corajosos, cerram os punhos e enfrentam a luta, mas a maioria de nós escolhe o caminho mais curto, que é o de evitar qualquer tipo de dor.
Ensinei isso aos meus filhos que, provavelmente, ensinarão aos seus filhos e assim sucessivamente.
Segurança... uma das palavrinhas que fazem parte do nosso cotidiano e das nossas necessidades básicas. Maslow a descreve muito bem. Mas talvez, nosso instinto de autopreservação possa nos tirar oportunidades de crescimento. Se tenho o hábito de esticar os braços impedindo que o novo se apresente, a grande probabilidade é que eu me feche em meu mundinho seguro e previsível.
Sabemos das nossas limitações, sabemos quando se faz necessário externar as “regras do jogo”, e assim viver um dia após outro, desejando que, em vários aspectos da vida, não seja mais preciso esticar os braços. E, pelo contrário, que possamos abri-los em forma de abraço para acolher nossas lutas, tornando-as mais leves, domáveis, porém sem permitir que cicatrizes sejam espalhadas em nossa existência.