segunda-feira, 29 de março de 2010

Fada existe?



No finalzinho das férias, levamos as crianças para assistir "O fada do dente".

O filme conta a história de um jogador de hóquei, de segunda divisão, "especializado" em destruir não só os dentes de seus adversários, como também o sonho de muitas crianças que o admiravam.

Mas as fadas o condenaram com uma dura pena: foi sentenciado a ser verdadeiramente um fada do dente por uma semana.
O filme transcorre com "o fada" esvaziando a dureza de seu coração e vivendo também as conquistas de seus próprios sonhos (que era voltar a ser um jogador de sucesso).

Voltamos para casa, com as crianças profundamente inclinadas a acreditar que a Fada do Dente existe.

Tratar os assuntos da fantasia por aqui, sempre foi pincelado com toque de racionalidade. Não de forma destrutiva, mas questionadora, para que as crianças tirassem suas próprias conclusões.

É muito engraçado quando eles têm dúvida sobre algum assunto dessa natureza. Parece uma balança. Um lado se inclina para a razão, mas o coração é totalmente voltado para a fantasia.

O saci, o papai noel, o coelhinho da páscoa e tantos outros que para eles não passam de personagens de livrinhos, esbarraram agora com a "verdade" de um filme. Ele balançou a cabeça e a emoção. Fada existe?

Na noite passada, um incisivo central abandonou uma boquinha feliz e não resisti a uma brincadeira. O dente que estava debaixo do travesseiro "desapareceu", e no lugar uma cédula enroladinha foi colocada.

Foi sensacional!

Na madrugada, o dono do dente "capturado" acordou convicto de que tinha sido visitado pela fada do dente.

Na manhã seguinte, fui questionada sobre quem realmente esteve no quarto (olha o racional brigando com a fantasia). Omiti, claro! E agora a dúvida paira no ar...

Incluir as crianças em nosso mundo real leva a um amadurecimento precoce. Tira a oportunidade de deixa-las "caminhar por ruas com pedrinhas de brilhante".

A escola vem atribuindo a estes pequenos, uma carga muito grande de responsabilidades. O mundo moderno, o futuro assustadoramente competitivo, nos pressiona contra parede, exigindo que façamos escolhas do que é "melhor" para eles.

Eu vinha esquecendo que eles são crianças e, na noite passada, resgatei a alegria de ve-los sonhar, numa mistura "amadurecidamente infantil", de acreditar nos "contos de fada".

quarta-feira, 24 de março de 2010

"Inutilidade" Humana


Falamos tanto sobre o quanto o ser humano é frágil, sobre o quanto somos impotentes, mas sempre baseados no racional, ou no que lemos ou ouvimos.

Enquanto gozamos de boa saúde, tudo isso fica numa esfera distante e inatingível, até que vem um insignificante mosquitinho, criado na casa de quem não deve cuidar nem do próprio umbigo, e te diz: vou te derrubar!

E o pestinha derruba mesmo.

Derruba seu corpo, sua mente e suas emoções. É a verdadeira sensação de "inutilidade" humana. Eu estava com dengue.

Engraçadas são as perguntas: "como você pegou isso"? ou "onde você pegou isso"?

Onde, quando e como já nem me interessavam mais. Para ser sincera, não consegui nem espiritualizar a coisa e pensar no "por que". Eu queria mesmo é que Deus permitisse que eu "sobrevivesse".

Eu tinha que "sobreviver" a uma casa de pernas para o ar, ao dever de casa feito "meia boca", ao almoço no restaurante sem a menor vontade de tirar o carro da garagem (o que dirá fome, que era nula ou inexistente). E-mails pipocavam na caixa de entrada do computador, com assuntos para serem resolvidos, mas ficaram lá... sem solução.

A dor que nasce na ponta dos dedos dos pés e prolonga até os fios de cabelo, já nem era motivo de pedido de sobrevivência.

O que não tem remédio, remediado está (adoro isso). Deixei tudo pra lá. Fui assistindo ao caos passivamente. Vivendo literalmente um dia após o outro. Uma dor após a outra.

E, como num passe de mágica, tudo desaparece. A cabeça volta a ter seu peso normal, o corpo começa a responder aos comandos da mente, o estômago abre a boca e grita com eco: "tô com fome!". E tudo começa a entrar nos eixos.

Os mosquitos continuam a circular , as pessoas continuam a não se importar com a própria segurança e com a segurança alheia (não estou generalizando), mas a vida segue seu caminho. Só me resta torcer para que esse surto passe logo.

Xiii! Já estão falando de H1N1. Será que irão só variar o nome dos nossos temores?

Ei-nos aqui, totalmente impotentes outra vez.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Um comentário infeliz


Estava na sala de espera de um consultório médico, no dia em que se comemora o "Dia Internacional da Mulher", quando um respeitável representante de laboratório chegou para uma visita.
Como esperado, ele parabenizou as mulheres presentes. Até aí, tudo normal.
Confesso que não me ligo nessas datas. Respeito quem as curte, mas para mim é uma grande besteira. Sou mulher todo dia, sou mãe todo dia, sou amiga todo dia, mas isso é outro assunto...
O ilustríssimo representante começou a "elogiar" sua esposa: "ela é uma excelente mulher. Arruma a casa como ninguém, é impecável para lavar minhas roupas. A comida dela ninguém faz igual. Se um dia ela me deixar, sei que serei um homem perdido".
Respirei fundo, contei até mil e fui (ou ele foi) "salva(o) pelo gongo". Envolvi-me em minha consulta e por algum tempo esqueci aquele homem.
Quando cheguei em casa e fui compartilhar o ocorrido, minha indignação voltou.
Não sou contra ninguém que curte cuidar da casa e faz isso com esmero, mas ser "reconhecida" como uma "grande mulher" porque os serviços domésticos são de extrema qualidade, foi demais para mim.
Os atributos que ele vê na esposa são perfeitos para um anúncio de classificados de jornal: "Procura-se por uma doméstica que arrume bem, lave e passe com capricho, que seja exímia cozinheira, com direito a dormir com o patrão".
Elogios para uma esposa dedicada poderiam ser vários: carinhosa, cuidadosa, companheira, amiga, enfim, não faltam atributos para uma mulher que tem um serviço diário exaustivo dedicado à família.
Francamente, espero que essa mulher seja muito feliz com o marido que tem, porque se não for, que ela dê um pontapé bem forte no traseiro desse homem que teve a audácia de "elogiar" o fato dela ter tirado o lodinho do banheiro no domingo, enquanto ele estava jogando futebol.
Um verdadeiro comentário infeliz!