segunda-feira, 28 de junho de 2010

Despedida

Meu rapazinho tem ursinho de pelúcia e, desde que nasceu, o adotou como seu companheiro noturno. Sempre dormiu com o bichinho. Seu amigão!

O que era um mimo virou um problema com o passar dos anos. Ele não conseguia deixar de dormir com seu Teddy (nome do ursinho).

Eu achava um absurdo um menino de oito anos ainda precisar de ursinho de pelúcia para fazer-lhe companhia. A “D. Culpa” me acusava de ter tropeçado em alguma etapa (ou, mais alguma) que fez com que meu rapazinho não vencesse seus medos noturnos.


Toda noite eu perguntava a ele: “filho, você não acha que já tem idade para dormir sem seu Teddy?” e ele sempre dizia: “sem ele eu não durmo”.

Um certo dia, ele me pediu para comprar vinte pacotinhos de figurinha, e eu pensei: é agora! Negociei com ele a troca do urso pelas figurinhas. No primeiro momento, ele disse que não trocaria, e eu sugeri que ele pensasse no assunto.

Naquela manhã ele foi guardar sua “muleta noturna” com uma carinha de pesar, como se estivesse se desculpando com o bichinho. À noite ele pediu para deixar o Teddy onde poderia vê-lo e, se sentisse necessidade, o pegaria para dormir.

Acordou na manhã seguinte muito confiante, pois havia conseguido dormir sozinho. Propus mais um dia de teste para ele ter certeza de que não se arrependeria.

Ele conseguiu! E agora planeja ir a banca de revistas, comprar suas vinte embalagens de figurinhas.

Mas vocês devem estar se perguntando: qual a importância desse fato tão bobo?

Ele me leva a pensar em muitas coisas, como insegurança, coragem, escolha, vitória, mas foi o rompimento que mais chamou minha atenção.

Desde bem pequenos, temos que lidar com rompimentos. Começamos pelo cordão umbilical e terminamos com a nossa morte. E, com exceção desse último, esses rompimentos são necessários e saudáveis embora, em alguns momentos, dolorosos também.

Por mais desprendidos que possamos ser, quando recebemos um “xeque mate”, engolimos seco e pensamos em recuar. Romper assusta. Em contrapartida, romper engrandece.

Aquela criança não sabia que não precisava mais daquele “amuleto”, por isso não queria deixa-lo. Ela criou uma falsa dependência que a impedia de libertar-se.

E nós também agimos assim. Ficamos presos a situações e a pessoas, que muitas vezes poderiam facilmente ser deixados, mas estamos tão viciados a elas, que parece que realmente são essenciais.

Quando vemos que é possível sobreviver, sair ileso e, na pior das hipóteses, um pouco feridos, lamentamos não ter tido coragem anteriormente.

É preciso coragem sim. Rompimentos não acontecem de um dia para o outro. A idéia vai sendo nutrida e as forças vão sendo armazenadas para o grande momento.

Eu venho ensaiando a autonomia dos meus filhos há algum tempo. Sei que eles são capazes, estão preparados para essa independência (coerente com a idade deles), mas sou eu que preciso deixar meu “ursinho de pelúcia”. Alguém tem figurinhas para me dar?

sábado, 19 de junho de 2010

Quem canta seus males espanta. E quem escreve também!

Nem só de sol são feitos os dias. Às vezes, eles são tão cinza, que é melhor nem sair de casa porque a sensação é de que um raio cairá sobre nossa cabeça. E hoje acordei em um desses típicos dias cinza. Um mal humor que eu mesma não me suportava. O dia seria longo...

Que atire a primeira pedra quem nunca se sentiu assim.

Queria ficar calada, não fazer nenhuma das minhas obrigações, ficar quieta em casa, mas, absolutamente nada do que queria, eu podia fazer.

Tive que conviver comigo.

Conforme as horas foram passando, aquela comichão ia se remexendo dentro de mim, mas aguentei firme para não cuspir fogo nos que cruzavam meu caminho.

Foi só no fim da tarde, quando consegui ficar sozinha, calada, é que pude refletir. Estava tudo terrivelmente bem comigo e com todos os que amo, então porque aquele azedume todo?

Dei-me conta de que estava na TPM.Detesto atribuir aos outros a culpa pelas minhas atitudes, mas essa maldita trinca de letras é mais complexa do que eu poderia prever.

Eu estava mal humorada por estar mal humorada, alguém consegue entender isso? Eu não! Se eu conseguisse me sacudir, não hesitaria.


Calma, June! Calma! Vai passar...

Foi então, que comecei a escrever. À moda antiga: papel e caneta, nada de laptop. Escrever e rabiscar, ficar fazendo desenhos enquanto nada vinha à mente. Que doce remédio! Escrevi aleatoriamente, coisas soltas, talvez sem sentido, mas fui escrevendo como quem compõe uma canção. A minha canção de cura.

Aquele mal humor foi se esvaindo, abandonando um corpo cansado de ficar carrancudo e comecei a suportar-me melhor.

Felizmente, foi um mal humor transitório. Tenho um colega que manda diariamente e-mail com o título “bom dia, Marília!” e ele explicou que Marília era uma funcionária tão mal humorada que quando ela chegava ao trabalho, ele ia logo dizendo com muita ênfase: “Boom diia, Marília” para ver se ela melhorava um pouquinho a cara. Que horror, que desperdício de vida!

Terminei o dia indignada por ter perdido um precioso dia com meu mal humor. Mas ele rendeu-me este texto, o que me faz confirmar que em tudo nessa vida, podemos tirar algo de positivo.

Ainda bem que escrevi e espantei esse azedume de mim. Caso contrário, poderia ter ouvido: “boooa noooite, June!” e penso que não seria nada bom...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Muito prazer! Quero apresentar-lhe a você mesmo.


Seria inusitado se alguém nos dissesse uma coisa dessa, uma vez que pensamos nos conhecer muito bem.

Em parte, sabemos de nossas reações, nossos defeitos e qualidades, mas já vi gente se perder no meio do caminho e depois, não conseguir mais se reconhecer.
Complicado, não?

Já pensou como deve ser se olhar no espelho e, como diz a música do Lulu Santos, “a gente não se reconhece ali”. Acho que, em algum momento, todos nós já nos sentimos assim. Algo passageiro de resgate fácil. Se hoje eu “me estranhasse”, tentaria me reconstruir, porém um pouco melhorada (que óbvio!)

Somos o que repetiram para nós anos e anos ou somos a libertação de um cárcere do destino, fazendo assim uma nova história, um novo autoconceito.

Somos nossas lutas, nNossas vitórias e derrotas, nossos erros e acertos. Somos nossa coragem e covardia, egoísmo e desprendimento, somos nosso carinho e nossas carências, mas grandiosamente, somos. E como isso é maravilhoso! Viver sem precisar que ninguém nos apresente.

Podemos ser quem inventamos, mas somos realmente o que não dominamos.

Se você me perguntar como sou ou quem acha que sou, minha resposta obviamente irá depender de como você age/reage comigo, o que você permite que eu veja.

De uns, posso dizer que são amáveis, sensíveis, justos, inteligentes, encantadores ou até mesmo desligados. Os egoístas, insensíveis ou prepotentes, com certeza não ouvirão o que penso a seu respeito. Normalmente prefiro fazer suco saboroso e isso só é possível quando extraímos o melhor que percebemos no outro. Existem pessoas que olhamos para elas e dizemos: “não mudaria uma vírgula em você”. São aquelas que admiramos. Já outras... não vale a pena nem fantasiar uma mudança.

Tem gente que se esconde atrás de uma casca tão grossa que não conseguimos nem enxergar o que tem por dentro, mas usam isso para se proteger, porém, com o passar do tempo, essa casca vai se solidificando de tal forma, que fica difícil tirar o sujeito lá de dentro. Nem ele lembra mais quem é.

Como tudo na vida, existe o exacerbado e o insignificante, mas buscamos mesmo é o ideal. E o ideal é olharmos no espelho e sentirmos que aquele que vemos somos nós mesmos, sem precisar que o outro “nos apresente”. Com todas as nossas limitações e imperfeições a auto-aceitação é fundamental. E, sentir um orgulho nada prepotente ou narcisista do que somos, é sinal de que tudo vai bem.

E, depois de toda essa divagação, se por charme, ou por curiosidade você ainda quiser realmente saber o que penso a seu respeito, basta mostrar-se, terei o maior prazer em dizer o que vejo e apresentar-lhe a você mesmo!