segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Quadradinhos


Fui “presenteada” com oito folhas coloridas de papel colorset e a seguinte tarefa: cortar quadradinhos de aproximadamente um centímetro cada, ou seja, um verdadeiro “presente de grego”, isso sim!

Achei tão absurda a tarefa que liguei para uma amiga para me certificar que havia entendido corretamente o dever de casa enviado aos pais. Fiquei bem desapontada quando ela me confirmou e ainda acrescentou o seu sentimento de solidariedade, pois ela já havia terminado os quadradinhos dela com um saldo nada positivo de efeitos colaterais (bolhas nos dedos).

Então, lá fui eu executar minha tarefa.

Peguei a primeira folha e pensei: quantos quadradinhos seriam possíveis obter. Seiscentos! Risquei a folha que ficou fofa, parecendo mesmo um papel quadriculado e comecei a cortar. Verifiquei que era preciso nova estratégia, pois daquela forma passaria horas da minha tarde e noite de domingo para conseguir os dois mil e quatrocentos quadradinhos totais.

A segunda folha foi unida à primeira que estava devidamente riscada com a medida solicitada. Ainda não estava rendendo e passei a riscar somente as linhas horizontais de um centímetro. Juntava duas ou três tiras e pronto, lá iam caindo os felizes papeizinhos pela mesa.

A paciência começou a dar sinais de cansaço e as duas ou três tirinhas passaram a ser seis ou sete. Papel mais grosso, a mão começou também a reclamar.

A terceira folha uniu-se a quarta, que foram transformadas em tirinhas e pequenos bolinhos de papel eram transformados em quadradinhos.

Da quarta folha em diante, as tirinhas já não eram tão regulares, os bolinhos já nem contava, a mão já tinha bolhas e os quadradinhos já não eram tão quadradinhos assim.

Foi quando comecei a achar uma certa graça interna com a minha impaciência.

Tenho traços de perfeccionista, mas estou longe de ser e querer quadradinhos de um centímetro. Era demais para mim. Ver, ao final do trabalho, que meu quadradinhos não eram bem o que eu planejei no início, deixaram-me um pouco aliviada comigo mesma.

Será que ando me cobrando menos? Será ando deixando um espaço para os erros?

Achei esta avaliação muito promissora a respeito de mim mesma.

Minhas galinhas da angola e minhas vaquinhas voltaram a cobrar minha presença na varanda e isto representa um sinal de que voltei a correr, porém, mesmo correndo, estou dando conta de me permitir muitas coisas.

Claro que os trabalhos enfadonhos nunca me levaram a lugar algum, sou agitada demais para eles, mas eu sabia que meus quadradinhos seriam para confecção de um mosaico.

Brinquei com um bocado de papéis aqui e ali, imaginado o que poderia formar, mas, nem mesmo esta motivação, foi suficientemente forte para eu exigir de mim a perfeição no corte.

Enfim, acho que serão mosaicos lindos, cada um tinha um pedacinho dos meus pensamentos, da minha dor, da minha raiva, da minha impaciência, do meu autoperdão, da minha diversão, da minha intenção... deve gerar peças bem malucas!

Eu não sei cuidar de flores


Desde a juventude é normal que as mulheres sejam presenteadas com flores.

Comigo não foi diferente. Já ganhei inúmeras, até descobrir que uma margarida tem o mesmo valor que uma cesta repleta de flores raras.

Mas toda vez é a mesma história. Ganho flores, enfeito a casa com elas, sinto-me feliz e logo em seguida, a decepção: não sei cuidar!

Elas morrem por vários motivos: excesso de água, falta de água, excesso de sol, falta de sol, terra desnutrida, queda, enfim, qualquer coisa é motivo para que, não intencionalmente, eu assassine as pobrezinhas.

No meu último aniversário, umas amigas me deram uma orquídea maravilhosa e resolvi encarar o desafio: esta não vai morrer. Comecei tudo errado, molhava a coitada todos os dias e uma vizinha me advertiu sobre esta falha. Elas precisam de umidade e não de “molhança”.

Okay, você venceu, florzinha! Vou estudar sobre você.

Nesse meio tempo, matei os lírios que uma amiga trouxe carinhosamente em dia que veio almoçar com a família. Fiquei arrasada com a perda, mas segui em frente.

A internet é uma forte aliada quando precisamos saber algo sobre alguém, e este alguém é a Belinha (nome que dei para minha orquídea). Li sites e mais sites. Fiquei ainda mais confusa, mas selecionei informações que considerei úteis para a sobrevivência da Belinha.

Acho que estou cuidando direitinho dela, pois desde maio ela sobrevive. Virou uma companhia. Converso, elogio, cuido. É quase uma flor-filha.

Meu lado prático diz: nada de animais, nada de plantas. Eles representam mais uma atividade no meu dia-a-dia. A minha lista de tarefas já é tão extensa...

Os animais, ainda continuo irredutível, embora meu coração balance por um cãozinho. Mas as flores... são tão frágeis, dependentes e, ao mesmo tempo, exigem tão pouco (se comparada a tudo que faço o dia inteiro). Achei-me preguiçosa ao me defender com sua ausência.

Casa com flores fica ainda mais alegre porque (é óbvio) elas têm vida.

Vou a passos tímidos, visitando floriculturas, trazendo plantas novas, escolhendo exemplares “diferentes” e pensando qual deve ocupar qual local da casa.

Mais um serviço? Talvez mais uma diversão que não havia me permitido por ter uma vida tão corrida.