sábado, 6 de junho de 2009

Minhas Andanças


Na semana passada, troquei minhas andanças de carro por andanças com meus próprios pés. Contei com o apoio do transporte coletivo também, mas era quando eu o via partir que enchia-me de uma alegria boba em poder caminhar livremente, e foi bem interessante.

A perspectiva de quem guia um carro a caminho de casa é totalmente prática, objetiva e acontece quase que por reflexo. É sair da avenida principal do bairro, entrar à direita, seguir até o fim da rua, virar à direita novamente, mais algumas quadras e pronto! Controle remoto na mão, abre-se o portão da garagem, sai do carro rapidinho para evitar que o alarme do prédio comece a gritar aos ouvidos, fecha-se a porta de vidro e o retorno é concluído com sucesso. É tão automático que nem vemos acontecer.

A perspectiva do pedestre pode até ser prática e objetiva, mas a minha não era. Mudar de perspectiva é algo que deveria ser experimentado por todos. Não digo só quanto a estas coisas quase banais. Refiro-me à capacidade de pensar sobre como o outro se sente em determinada situação ou vê algo que você também vê, porém de forma diferente. Chamam isto de empatia. Eu chamo de condição indispensável para um bem viver.

Mas voltando às minhas andanças, conhecer as calçadas do meu bairro foi uma experiência muito bacana. Enquanto motorista, podia fechar os olhos e fazer o trajeto mentalmente, visualizando casas, edifícios, uma coisa aqui, outra ali. Mas agora, pude ver que, na casa verde tem um quadrinho com bonequinhos de mãos dadas, dependurado na porta. Pensei que ali, provavelmente, morava algum casal bem feliz. Que nas casinhas geminadas de portão branco, o jardineiro é o mesmo, pois as plantas são idênticas e caprichosamente cuidadas. Que, em frente ao edifício de lajotas azuis, é impossível caminhar, pois as árvores ainda estão baixas e elas me fazem lembrar da Praça de Ubá onde eu sempre admirava na infância aquelas árvores com suas formas e folhas cortadas por pessoas que eu pensava tratar-se de cabeleireiros de árvores (de tão certinhas que eram).

Quando chego em casa, troco o controle remoto pelo molho de chaves, utilizo um portão que raramente faz parte do meu dia-a-dia. Subo as escadas com calma, alcanço o alarme e entro tão despreocupadamente quanto estive durante a caminhada. É uma espécie de “entorpecência” causada pela mais boba alegria de poder ver o que sempre esteve à minha frente, porém, em outra perspectiva e posso garantir que, além de fazer bem para o corpo, fez muito bem para os pensamentos que puderam desacelerar comigo.

2 comentários:

  1. Oi garota! Como me identifiquei com o que foi dito!! Também costumo fazer minhas caminhadas pelas ruas da minha cidade e assim conhecê-la melhor, observar detalhes, adoro ver tudo isso sob outra ótica. E o bom exercicio de se colocar no lugar do pedestre.Todo motorista deveria fazer isso, de vez em quando.Beijosss

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  2. Como a Sônia disse, eu também me identifiquei! Sou a favor de que novos olhares sejam lançados por nós sobre as atividade diárias. Ver além do que está posto...aproximar-se da essência e encontrar prazer nas pequenas coisas. Parece clichê, mas entre o dizer e o fazer, as pessoas escolhem reclamar.
    Um beijo! Amo você!

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