
Quando a escassez chama-se abundância
Tenho conhecido várias comunidades carentes ao longo deste ano, ao prestar serviços para uma ONG.
As experiências têm sido enriquecedoras. Especificamente, nos últimos meses, quando venho realizando diagnósticos sócio-econômicos delas, aprendi um novo conceito: escassez é abundância.
Nós, “do mundo de cá” preocupamos em sobreviver, claro. Mas nossas preocupações passam, por exemplo, pelo valor que pagamos nas mensalidades da escola de nossos filhos. Eles, “do lado de lá” se preocupam com o valor do transporte para conseguir chegar à escola pública.
Saber que diferenças existem, é real, mas conhecê-las de perto é muito “impactante”.
Ter um saco de arroz e poder dividi-lo com um vizinho que só teve tempo de salvar o filho de 7 meses, antes que a enchente levasse tudo de sua casa, é sentir-se em situação de abundância.
“Eu não tenho muito, mas o que tenho dá para dividir...” São falas assim, comuns em comunidades carentes, que nos levam a refletir sobre nossos valores.
Eu alguns lugares fui recebida em terreno baldio, pois não havia uma casa que comportasse um grupo de oito pessoas. Em outros, nos espremíamos, para que ninguém ficasse de fora. Em alguns, até serviam café. Crianças faziam desenhos para dar de presente. Eles sabem dividir sua escassez!
“Saiba onde está seu tesouro e lá estará seu coração”. E quais são, hoje em dia, os meus tesouros? Será que podemos considerar a nossa “escassez” como verdadeira abundância?
Sou otimista por natureza e grata a Deus de todo meu coração. Considero-me abençoada, protegida e em condição de abundância, mas sempre colocamos uma vírgula no caminho para uma míope escassez.
Se temos carinho demais, pensamos que talvez seja pouco, se temos dinheiro suficiente (veja bem, não disse demais, disse suficiente), achamos que é pouco. Armários e sapateiras cheios, é pouco. Despensa farta, poderia ter mais e assim, citar uma infinidade de exemplos de “escassez”.
Senti vergonha ao achar que minha “modesta" abundância engana meus olhos e meu coração.
Muitos pensam que moradores de comunidades, carentes vivem lá porque não têm ambição, são acomodados, falta-lhes garra ou vontade de vencer. Mas o que vi por lá, é bem diferente. Trabalham muito, arrumam tempo para estudar, defender seus direitos, buscar melhorias. Doam-se. Vivem, ou melhor, sobrevivem à tantas injustiças.
Para eles, diferente de nós do “mundo de cá”, sobreviver já é uma grande vitória. É abundância de vida!
Oi amiga! Isso tudo dá o que pensar. Também me questiono ao observar como as classes menos favorecidas (pela grana né?) são muuuuuuito mais solidárias. O sofrimento nos humaniza...penso que passa por aí.
ResponderExcluirUm lindo dia das crianças pros baixinhos, e pra nós também.. rss
Beijão
Que susto (no bom sentido) que levei ao ler o título da sua crônica! Postei no twitter hoje "concentrada na abundância"... até parece mentira, né!?
ResponderExcluirE ando meio inspirada no livro do Roberto Tranjam "Rico de verdade" e acho que o texto de vocês se completam.
Beijos!
E enquanto isso no mundo real, as pessoas brigam e se matam por não terem aprendido a ter compaixão.
ResponderExcluir=)