terça-feira, 27 de julho de 2010

Quero ser "Maria"

Existe uma passagem na Bíblia em que conta a história de uma mulher chamada Marta que, em certa ocasião, hospedou Jesus em sua casa. Ela tinha uma irmã chamada Maria que não desgrudou de Jesus para ouvir Sua Palavra. Marta corria de um lado para outro organizando o melhor de sua casa para oferecer a Jesus, no entanto quem mais usufruiu do “banquete” foi sua irmã Maria (Lc 10.38)

Vivo um momento muito Marta em minha vida. Passo o maior tempo em casa, me multiplicando em dez para dar conta de tudo. Sou mãe, esposa, representante comercial, dona de casa, filha, nora, amiga, quebra-galho, entre outras atribuições. Tudo isso, em um dia que só tem 24 horas.

E, no que diz respeito aos meus filhos, dei-me conta de que a Marta está mais presente em casa e em suas vidas, do que a Maria. Estou aqui, mas não estou com eles. E, o pior, perdendo o que eles tem de melhor, que é a infância. Ela está andando a passos largos e eu perdendo o banquete...

Nessas férias (deles, pois estou longe de pensar em férias), descobri que precisava “mudar o rumo”. Nada de acampamento com os coleguinhas, nada de colônia de férias do clube. De forma bem egoísta, quis eles só para mim. Quis resgatar um pouquinho da mãe que brinca, da mãe disponível. Estou tendo que reaprender a soltar pipa, andar de bicicleta, nadar no frio, jogar basquete, peteca, UNO, Monopoly, brincar de salão de beleza, casinha. Deixá-los quebrar os ovos para o bolo, pedir para ler as receitas, fazer bichinhos com massa de biscoito. Ir ao cinema a tarde. Ler livros com caras e bocas. Assistir desenhos na TV, pegar filmes na locadora, enfim, estar realmente com eles.

Só respondo os e-mails e resolvo coisas do trabalho bem cedo, antes deles saírem da cama ou quando eles se cansam de mim (triste reconhecer que cansam de verdade). Leio meus livros e escrevo meus textos antes de dormir (como fiz ontem, as 00:24, já que tinha que postar este texto no Mulher Ocupada naquele dia), mas só me interessa não perder de vista o banquete...

É muito contraditório quando nosso desejo de SER se esbarra nas necessidades do TER essenciais a eles (escola, curso de línguas, esporte, etc). Fazemos malabarismo com o orçamento doméstico para dar conta de tudo, e o “perigo” desse impasse é nos afogarmos nos afazeres enquanto os dias passam, sem piedade, por nós. Ficam o SER e o TER pela metade, incompletos.

Uma amiga me enviou um artigo que abordava sobre um livro da filósofa e feminista francesa Elisabeth Badinter, contra as exigências da mãe perfeita. Mas será que é querer ser perfeita não se conformar em perder o banquete? Felizmente sou das mais imperfeitas possível, e dentro de toda minha imperfeição vou tentando usar e abusar da criatividade (que penso ser forte aliada à falta de recurso financeiro), maximizando meu tempo e burlando a Marta que vive batendo à minha porta.

Ainda faltam cinco dias para terminar as férias, estou fisicamente muito cansada, mas emocionalmente muito feliz por saborear o precioso banquete da minha vida.

4 comentários:

  1. Obrigada por deixar participar do seu egoísmo - e poder ser egoísta também, mas em boa compania! :)

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  2. Duas egoístas de carteirinha rsrsrsrs
    Amo sua companhia!
    bjs

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  3. Eu fiquei muito feliz em ler esse texto, pois sempre achei que éramos extremamente diferentes nesse aspecto (filhos). Fiquei mais feliz ainda quando descobri que sempre usufruo desse banquete maravilhoso. Consequencia disso é que não consigo ver dificuldade em nada na minha vida, mesmo quando a dificuldade está alí batendo na porta. O tempo que tenho disponível dedico à eles e o retorno disso é imediato, pois o sorriso deles é o que alimenta minha alma. Me busco e me acho (tempo que separo para mim) no sono tranquilo que eles tem à noite.
    Adoro, adoro você e sou sua fã (aliás sempre fui)
    Bjos.
    Sil.

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  4. Oi, Sil! A Marta invadiu a área aqui de tal forma que nem tenho tido tempo para escrever. Mas ela agora veio dosada com a Maria, então funciona assim: pela manhã a Marta e Maria ficam juntas, a tarde só a Marta e a noite só a Maria. Como diz uma amiga "filho faz tudo valer a pena" e como!!!!
    Também sou sua super fã e meu lado Maria precisa aprender com você!
    bjs no coração!
    ju

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